Setor é o único com capilaridade suficiente para movimentar outros segmentos da economia brasileira
O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, entende que a construção civil será a principal alavanca para que o país consiga retomar o ritmo econômico de antes da pandemia de Coronavírus. O dirigente declarou em webnar que o enfrentamento da crise é similar ao que se faz quando se encerra uma guerra. “Após uma guerra, se sai reconstruindo”, diz.
Martins também destaca que a construção civil é o único setor com capilaridade para movimentar os outros segmentos da economia brasileira no pós-pandemia. “A construção civil impacta diretamente 62 setores das áreas industrial e comercial e mais 35 setores de serviço. São 97 torneiras que são abastecidas quando se enche essa caixa d’água. Não há como irrigar a economia sem a construção civil”, compara.
Em sua análise, o presidente da CBIC avalia que a falta de crédito é o único gargalo que pode impedir a construção civil de se tornar o principal agente da retomada econômica. “A maior parte das construtoras está encontrando dificuldades para obter crédito. A situação mais complicada envolve as médias construtoras, já que o governo abriu linha de crédito para as pequenas empresas (lucro anual até 10 milhões de reais) e as grandes captaram na bolsa e estão capitalizadas. Então, é nesse segmento das médias que o financiamento está complicado”, afirma.
Para amenizar esse impacto, CBIC e ABRAINC (Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias) lançaram a campanha Vem Morar, onde construtoras e incorporadoras de todos os portes darão desconto mínimo de 3 mil reais sobre o valor de suas unidades. A iniciativa terá duração inicial de 60 dias e será de alcance nacional. Ao comprador que adquirir imóvel de uma empresa que aderir à campanha, ele ainda terá a condição especial de 180 dias para pagar a primeira parcela. “Não tem forma de sair dessa crise que não seja via investimento”, destaca José Carlos Martins.
Com crédito, instabilidade no setor imobiliário será de curto prazo
Para o economista Luís Artur Nogueira, desde que se resolva a situação do crédito, a instabilidade para o segmento imobiliário da construção civil deverá ser de curta duração. “De fato, a incerteza paralisa novos investimentos e atrasa as obras. Haverá uma reavaliação por parte das construtoras e incorporadoras sobre novos lançamentos, mas acredito que a vida volta ao normal a partir do segundo semestre”, estima.
O analista entende, porém, que o grande impulso para a retomada do crescimento econômico do país virá das obras de infraestrutura. Para isso, ressalta, é preciso fortalecer os investimentos públicos e superar desafios, como a oscilação cambial, que gera incerteza tanto para os investimentos estrangeiros como para a cadeia produtiva. “O investimento em infraestrutura é uma das saídas, pois já existe a percepção do governo de que se não houver o aporte público não terá o do privado”, avalia.
De acordo com o economista, a velocidade de recuperação também dependerá da capacidade do governo em salvar empresas e trabalhos. “Não haverá recuperação econômica se quebrar o setor produtivo ou os consumidores”, ressalta. Nogueira finaliza com estimativas para a economia brasileira em 2020. A previsão é de encolhimento entre 2% e 6% no Produto Interno Bruto (PIB), inflação de 2,5% e taxa básica de juros na ordem de 3% ao ano. O desemprego saltaria dos atuais 11% para 15%. Já a balança comercial ficaria positiva, com um superávit entre 30 bilhões e 50 bilhões de reais.
Reportagem com base nos web seminários “Covid-19 interrompe voo da construção civil?”, com participação do presidente da CBIC, José Carlos Martins, e “Impactos e perspectivas pós-Coronavírus”, com o economista Luís Artur Nogueira.
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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